Uma abordagem profunda sobre Obras de Misericórdia*

Maquinelle Furtado

Ao associar a parábola do bom samaritano com o estudo das Obras de Misericórdia, destacamos dois pontos máximos: A dedicação ao mais fraco e a condição do ser bom ou ser mal, ao ajudar indistintamente.

Assim como nessa passagem bíblica, muitas vezes, com uma atitude bem parecida com aquela feita pelo sacerdote citado na parábola, somos movidos a ajudar apenas a quem reconhecemos que tem valor. E quando não notamos tal “valor” geralmente ignoramos e não ajudamos.

A sociedade atual preza pelos fortes, por quem tem poder, quase como um culto. De maneira errônea, estamos confundindo o valor de humanidade comum a todos com um valor superficial medido pela autoridade e/ou poder que algumas pessoas detém dentro de uma sociedade. Nesta realidade esse tipo de ajuda não se qualifica como uma obra de misericórdia.

Ajudar uma pessoa de destaque na sociedade é no fundo alimentar a chance de um dia, aquela ação seja retribuída, caracterizando assim uma tentativa de vantagem, autopropaganda, ou coisa do tipo.

Há ainda outra pseudo-obra de misericórdia. Nos parâmetros atuais não devemos confundir proteção com ação de misericórdia.  Idosos, mulheres, crianças, gestantes são exemplo disso. Para todos esses tem leis específicas, como o estatuto do idoso, Lei “Maria da Penha”, Estatuto dos Direitos da Criança e do Adolescente, Lei da licença maternidade. Isso não quer dizer que respeitar os direitos dessas classes seja uma ação humanitária e misericordiosa, é apenas um protecionismo necessário pela condição na qual essas pessoas estão vivendo. Sem falar que não podemos esperar que alguém ou alguma lei nos obrigue a reconhecer e respeitar os direitos dos mais “fracos”.  O simples fato de respeitar as leis, neste caso não nos faz cristãos no seu verdadeiro sentido, pois são direitos instituídos pelo estado de fragilidade. A ação misericordiosa deve ocorrer de dentro para fora e não de fora para dentro.

Obra de misericórdia é uma ação de ajuda sem distinção, onde não devemos nos preocupar com as vantagens pessoais. Para sermos uma sociedade cristã, precisamos prezar pelos fracos. Foi isso que Jesus tentou alertar àqueles que ouviam a parábola do bom samaritano. Ajudar uma pessoa considerada “fraca” - nessa luta selvagem e constante do mundo de hoje, onde o forte sempre destrói o fraco - é um sinal de ação de misericórdia, pois não há qualquer interesse posterior naquilo que está sendo feito. Há neste tipo de ação apenas o apreço pelo ser humano e o reconhecimento de seu verdadeiro valor.

Mas ai surge um questionamento: Como reconhecer o valor de quem lhe é estranho? Daí respondo com outra pergunta: O que é mais fácil? Ajudar um amigo ou um estranho? Certamente, irá responder que é ajudar os amigos, afinal existe entre você e essas pessoas um relacionamento de amor, atenção e preocupação. Você reconhece nessa pessoa alguém que é seu igual. E como não existe um grau de relacionamento entre você e um estranho qualquer, você não o reconhece como seu igual.

Na parábola, o sacerdote e o levita tiveram uma má atitude, pois não reconheciam naquele homem alguém que fosse seu igual. O sacerdote fariseu sentia-se superior a ele. Não ajudar um estranho é na realidade, deixar de reconhecer que aquela pessoa é seu igual. Isso ocorre não por que as pessoas sejam más, mas por que não havia um laço, um relacionamento entre eles e o pobre homem que sofreu o assalto.

Precisamos reconhecer no outro um pouco de nós mesmos. Uma pessoa se define pelo relacionamento que tem com outras pessoas. Ajudar um estranho, é na realidade reconhecer e valorizar a necessidade de se relacionar amorosamente com todos. Isso gera uma boa ação e bons comportamentos.

Não nascemos bons ou maus, é o grau de relacionamento que nos faz agir de maneira boa ou ruim. Se alguém lhe é estranho, certamente não você não tem nenhum relacionamento com quem lhe é estranho e por isso não tem tanta importância. É assim que funciona na maioria das vezes.

E como manter um relacionamento com quem não conhecemos?

Jesus sempre se viu em um constante relacionamento com Deus. Ele disse: “O pai está em mim, e eu no Pai.” Esta profunda conexão entre eles era um modelo de como Ele queria que vivêssemos. Os seres humanos não podem viver isolados. Nunca podemos ser bons sozinhos.

Reconhecendo em Jesus como maior exemplo de amor incondicional, ele se dispõe como elo entre você e Deus, entre você e as pessoas estranhas. Para reconhecer a importância do outro, para considerá-lo como igual, não precisa conhecê-lo, basta relacionar-se com estes estranhos através do próprio Jesus. Jesus nos mostra isso pelos seus ensinamentos.

Jesus sempre demonstrava que as coisas poderiam ser corrigidas a partir do que damos aos outros e não do que recebemos destes como forma de pagamento.

 

*Este artigo foi extraído da apostila de aprofundamento dos monitores de nossa paróquia desenvolvido por Maquinelle Furtado. O artigo enquadra-se como comentário sobre o tema, norteando os catequistas sobre os pontos importantes a comentar. Nesta apostila, que serve como roteiro para os encontros, ainda constam algumas sugestões de planejamento do encontro. São sugeridos dinâmica, música, iluminação bíblica, atividades e questionamentos tudo de acordo com o tema. Conheça nossa apostila para catequistas. Clique aqui e "baixe" essa parte de nossa apostila (Obras de Misericórdia) como ilustrativo.

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